Pai é solto após pedido inusitado de filhas ao juiz; ‘presente de Natal’

Um comerciante de 34 anos que está preso, acusado de tentativa de homicídio em Posse, foi solto depois que o juiz leu as cartinhas de suas filhas, de 13 e 4 anos, que pediam como “presente de Natal” a volta do pai para casa. Umas das cartas das menores foi divulgada pelo magistrado e teve grande engajamento nas redes sociais.
“Esse foi o melhor Habeas Corpus que já recebi!! Eu sempre digo que não precisa escrever muito!! Prometo que irei olhar com toda atenção e critério com que vejo todos os outros”, escreveu ele em certo tom de brincadeira.
O juiz Denis Bonfim, que responde pela comarca de Posse (Goiás), disse em entrevista que ficou emocionalmente comovido ao receber as cartas em seu gabinete, entregues pela própria defesa do réu. O dono de uma distribuidora de bebidas, foi acusado de tentar matar um homem à tiros por conta de dívida de R$ 600. “Não há elementos precisos que demonstrem indícios suficientes de autoria ou de participação do acusado” no crime, disse o magistrado.
O comerciante, que nega seu envolvimento no crime, foi liberado no sábado (17), depois de ficar cinco meses preso. Com a decisão, ele não será julgado pelo júri popular. Já o Ministério Público disse que irá se pronunciar depois do recesso, assim que os autos judiciais voltarem a tramitar regularmente no estado. Prazos processuais são suspensos durante o recesso.
O advogado do réu foi o responsável por entregar cartas ao juiz. Em uma delas, a filha mais nova conta que a casa e a família estava muito triste sem a presença do pai. “Meu pai é bom”, escreveu a criança, pedindo que ele fosse liberado antes do Natal.
Outro trecho da carta que sensibilizou Denis foi “quando ela escreveu ‘Deus te proteja’”, isso me tocou especialmente, porque naquele momento ela estava desamparada e desprotegida precisando do seu provedor. Imaginei comigo: não posso protegê-la, mas talvez eu possa devolver a ela alguém capaz de fazer isso”, afirmou ele.
Na outra carta, a filha mais velha contou que a prisão do pai abalou seu psicológico e que começou a sofrer com ansiedade e insônia. Os nomes das crianças não foram publicados, assim como o nome do réu.
Prisão do comerciante é injusta segundo testemunhas
O homem foi preso temporariamente em 21 de julho, 18 dias depois do crime. Além das duas filhas, ele mora com a mulher e outros dois filhos, de 7 e 2 anos. O acusado soube que as filhas haviam escrito cartas para o juiz e que também recebeu abaixo-assinado de moradores da cidade pedindo sua soltura.
De acordo com o magistrado, a investigação foi baseada nas declarações da vítima, “as quais se mostraram contraditórias e desarmônicas com os demais elementos probatórios”. A vítima mudou as versões apresentadas na delegacia e no Judiciário, além de apresentar informações diferentes das que foram relatadas por algumas testemunhas visuais.
A vítima relatou à Justiça que estava em casa e escutou um barulho no portão, com alguém anunciando uma entrega, e que ao ouvir o portão se abrir, ouviu um barulho de moto antes de sentir dois disparos nas costas. Após a situação uma das pessoas havia gritado: “paga meu dinheiro”. Com isto, mesmo ferida, teria conseguido se levantar e pegar R$ 600 em sua carteira para entregar ao criminoso.
A vítima alega que “não estava devendo para outra pessoa”, mas que não tinha certeza sobre que seria o autor do crime. No domingo em que o crime foi praticado, o comerciante saiu de casa à noite no mesmo momento da tentativa de homicídio. Contudo, a defesa sustenta que ele foi para a casa de um colega na região para ajudar a vacinar gado.
“Como juiz, preciso ter certeza de que a pessoa deve ser culpada pelo crime. Sou pautado pelo garantismo penal. Não vou condenar ninguém ou levar alguém a julgamento por crime que não tenho certeza de que aquela pessoa cometeu”, afirmou Bonfim.
O magistrado recebeu duas cartas com pedido de soltura do pai e, posteriormente, mais duas de agradecimento. Nestas últimas, as crianças expressam gratidão ao juiz e disseram estar felizes por ele ter lido as cartas e concedido a soltura do pai.