Testamento de Papa Bento XVI é divulgado por Igreja Católica e deixa pedidos, agradecimentos e uma aula teológica aos religiosos

O Papa emérito Bento XVI faleceu no dia 31 de dezembro de 2022, aos 95 anos, no Vaticano. Durante a quinta-feira do dia 5, foi divulgado, pela Igreja Católica, o seu testamento. Ao contrário de documento com valores financeiros e indicando bens patrimoniais, ele beneficia toda a humanidade por suas mensagens. O testamento espiritual do religioso foi feito em agosto do ano de 2006, após a sua chegada ao cargo máximo da Igreja Católico. No texto de sua carta ele pede que os fiéis “permaneçam firmes na fé”.
Através da integridade sempre presente no Vaticano, o testamento foi exposto contendo também um pedido de desculpas de Joseph. O pedido é direcionado para todos aqueles com quem ele tenha “de algum modo cometido um erro”. Em um trecho do documento, Ratzinger diz que a pesquisa histórica e ciências naturais, as vezes, podem oferecer resultados inegáveis, contrastando com a fé católica. Ao fim, ele deixa uma oração de sua parte à humanidade.
O velório de Bento XVI ocorreu na Basílica de São Pedro, no Vaticano. O funeral ocorre nesta quinta-feira (5) na Praça São Pedro. O sepultamento será nas criptas sob a Basílica de São Pedro, como desejado pelo religioso. Ao contrário do cerimonial de despedida, o enterro será realizado de forma privada. Segue abaixo o testamento de Bento.
O meu testamento espiritual
Se nesta tarda hora da minha vida olho para as décadas que percorri, como primeira coisa vejo quantas razões tenho para agradecer. Agradeço antes de tudo ao próprio Deus, o dispensador de todo bom dom, que me doou a vida e me guiou através de vários momentos de confusão; levantando-me sempre toda vez que começava a escorregar e dando-me sempre novamente a luz da sua face. Retrospectivamente vejo e compreendo que mesmo os trechos obscuros e cansativos deste caminho foram para a minha salvação e que justamente neles Ele me guiou bem.
Agradeço aos meus pais, que me doaram a vida num tempo difícil e que, a custa de grandes sacrifícios, com o seu amor me prepararam uma magnífica morada que, com sua clara luz, ilumina todos os meus dias até hoje. A lúcida fé de meu pai me ensinou a nós, filhos, a crer, e como indicador sempre foi firme em meio a todas as minhas aquisições científicas; a profunda devoção e a grande bondade de minha mãe representam uma herança à qual jamais poderei agradecer suficientemente. Minha irmã me assistiu por décadas de maneira desinteressada e com afetuoso cuidado; meu irmão, com a lucidez dos seus juízos e a sua vigorosa determinação, sempre me abriu o caminho; sem este seu contínuo preceder-me e acompanhar-me, não poderia ter encontrado o caminho justo.
De coração agradeço a Deus pelos muitos amigos, homens e mulheres, que Ele sempre colocou ao meu lado; pelos colaboradores em todas as etapas do meu caminho; pelos mestres e os estudantes que Ele me deu. Agradecido, confio a todos à Sua bondade. E quero agradecer ao Senhor pela minha bela pátria nos pré-alpes bávaros, na qual sempre vi transparecer o esplendor do próprio Criador. Agradeço às pessoas da minha pátria, porque nelas pude sempre experimentar de novo a beleza da fé. Rezo para que a nossa terra permaneça uma terra de fé e vos peço, queridos compatriotas: não vos distraiais da fé. E finalmente agradeço a Deus por todo o belo que pude experimentar em todas as etapas do meu caminho, especialmente, porém, em Roma e na Itália, que se tornou a minha segunda pátria.
A todos aqueles que de algum modo tenha cometido um erro, peço perdão de coração.
Aquilo que antes disse aos meus compatriotas, o digo agora a todos aqueles que na Igreja foram confiados ao meu serviço: permanecei firmes na fé! Não vos deixeis confundir! Com frequência, parece que a ciência – as ciências naturais de um lado e a pesquisa histórica (em particular a exegese da Sagrada Escritura) de outro — seja capaz de oferecer resultados irrefutáveis em contraste com a fé católica. Vi as transformações das ciências naturais desde tempos remotos e pude constatar como, ao contrário, tenham desaparecido aparentes certezas contra a fé, demonstrando-se ser não ciência, mas interpretações filosóficas somente aparentemente incumbentes à ciência; assim como, por outro lado, é no diálogo com as ciências naturais que também a fé aprendeu a compreender melhor o limite do alcance de suas afirmações e, portanto, a sua especificidade. São pelo menos 60 anos que acompanho o caminho da Teologia, em especial das Ciências Bíblicas, e com o subseguir-se das várias gerações vi ruir teses que pareciam inabaláveis, demonstrando-se serem simples hipóteses: a geração liberal (Harnack, Jülicher ecc.), a geração existencialista (Bultmann ecc.), a geração marxista. Vi e vejo como do emaranhado das hipóteses tenha emergido e emerja novamente a razoabilidade da fé. Jesus Cristo é realmente o caminho, a verdade e a vida — e a Igreja, com todas as suas insuficiências, é realmente o Seu corpo.
Por fim, peço humildemente: rezem por mim assim que o Senhor, não obstante todos os meus pecados e insuficiências, me acolher nas moradas eternas. A todos aqueles que me são confiados, dia após dia, vai de coração a minha oração,
Benedictus PP XVI