A semana começou com um impacto significativo nas esferas políticas do Brasil. Na segunda-feira (14), a Procuradoria-Geral da República (PGR) protocolou um pedido formal de condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de mais sete figuras proeminentes envolvidas em um suposto esquema de tentativa de golpe de Estado no final de 2022. A acusação é extremamente grave, com a PGR afirmando que esse grupo integrava o “núcleo duro” de uma articulação destinada a conturbar o resultado das eleições presidenciais, buscando manter Bolsonaro no poder de maneira inconstitucional.
Entre os nomes mencionados na denúncia estão ex-ministros, altos oficiais das Forças Armadas e aliados diretos do ex-presidente, todos acusados de serem parte de um movimento golpista que começou a se articular antes mesmo da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas. O documento da PGR revela um panorama preocupante: desde o início de 2022, ocorreram reuniões secretas, elaboração de minutas de decretos inconstitucionais e tentativas de desacreditar o sistema eleitoral, atividades que, segundo a PGR, contavam com a participação e conhecimento do então presidente.
Um dos delatores centrais na investigação é Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e tenente-coronel do Exército, que forneceu informações cruciais sobre as reuniões no Palácio da Alvorada. Cid afirmou que Bolsonaro teve acesso a uma minuta que previa a declaração de Estado de Sítio e até fez modificações no texto. Além disso, o ex-ajudante disseminou desinformação sobre as urnas eletrônicas, mesmo sem evidências de fraudes, alimentando o discurso golpista entre os apoiadores mais radicais.
Outro nome de destaque é o general da reserva Walter Braga Netto, que, além de ter servido como ministro da Defesa, foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro. Desde dezembro de 2024, ele se encontra preso preventivamente e é acusado de participar da criação do plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que, segundo delatores, incluía até a proposta de assassinato do presidente eleito Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A PGR também aponta que Braga Netto buscou financiamento para sustentar acampamentos golpistas em frente a quartéis do Exército.
O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, é outro denunciado. A PGR informa que ele foi o único militar a apoiar abertamente o plano golpista, afirmando que colocou tropas da Marinha à disposição do ex-presidente e assinou uma nota em defesa dos acampamentos que, posteriormente, se tornaram palco das manifestações de 8 de janeiro. Já o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é acusado de utilizar a estrutura da agência para fins políticos, alimentando ataques ao sistema eleitoral e espionando adversários.
Além desses, o general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, também é mencionado. A PGR alega que Heleno participou de reuniões com teor golpista e influenciou comandantes militares a se unirem ao movimento. Por sua vez, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, é acusado de omissão frente à escalada das manifestações golpistas, além de ter favorecido operações que dificultaram o acesso de eleitores às urnas, especialmente no Nordeste.
Com a denúncia da PGR, inicia-se um novo e crucial capítulo na investigação sobre a tentativa de ruptura democrática em 2022. A PGR fundamenta suas acusações em delações premiadas, documentos apreendidos, mensagens interceptadas e depoimentos de militares, indicando que as ações não foram isoladas, mas parte de um plano coordenado e financiado por figuras de destaque do governo Bolsonaro. O próximo passo agora recai sobre o Supremo Tribunal Federal, que avaliará a aceitação da denúncia e poderá, caso considere adequado, transformar os oito acusados em réus formais, configurando um dos julgamentos mais significativos desde a redemocratização do país.