Nesta quinta-feira, 3 de outubro, o Brasil perdeu um de seus grandes nomes da política, Roberto Saturnino Braga, aos 93 anos. Ex-prefeito do Rio de Janeiro e ex-senador, Saturnino deixou sua marca ao longo de décadas de atuação pública. Sua morte, confirmada pela família e pelo prefeito Eduardo Paes, ocorreu em um hospital particular na zona sul do Rio de Janeiro, onde ele estava internado recebendo cuidados paliativos devido a complicações de uma pneumonia.
Saturnino Braga foi uma figura central na política carioca e brasileira nas décadas de 1970 e 1980, sendo um dos protagonistas de importantes transformações políticas do país. Nascido em 1930, sua carreira teve início em 1963, quando foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, representando o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Seu ingresso na política se deu em um momento crucial da história do Brasil, e ele rapidamente se tornou uma liderança de destaque.
Com o golpe militar de 1964, Saturnino se filiou ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que abrigou a resistência à ditadura. Ao longo dos anos de regime militar, ele se destacou como uma das vozes mais respeitadas da oposição, consolidando-se como líder político no estado do Rio de Janeiro. Em 1975, foi eleito senador pelo MDB, consolidando sua relevância no cenário nacional.
Em 1982, Saturnino Braga foi reeleito senador, desta vez pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), sob a forte influência de Leonel Brizola. No entanto, foi sua eleição em 1985, como o primeiro prefeito eleito diretamente no Rio de Janeiro após o regime militar, que marcou um dos momentos mais significativos de sua carreira. Antes disso, os prefeitos do Rio eram nomeados ou eleitos indiretamente.
Seu mandato como prefeito (1986-1989) foi repleto de desafios. A cidade do Rio de Janeiro enfrentava uma grave crise financeira, estando profundamente endividada e sem acesso a novos empréstimos. Em 1988, Saturnino tomou a polêmica decisão de declarar a falência do município, uma medida que gerou intensa repercussão na época. Seu governo, embora marcado por dificuldades econômicas, foi também um período de tentativa de reorganização financeira da cidade.
Além da crise financeira, Saturnino enfrentou uma ruptura política significativa durante seu mandato como prefeito. Após divergências com Leonel Brizola, ele deixou o PDT e voltou para o PSB. Ainda assim, sua influência na política carioca se manteve forte.
Em 1992, foi eleito vereador pelo PSB e, em 1998, retornou ao Senado Federal. Durante esse período, Saturnino Braga manteve proximidade com lideranças importantes da política brasileira, como Anthony Garotinho e Benedita da Silva. No entanto, em 2002, ele migrou para o Partido dos Trabalhadores (PT), onde permaneceu até o fim de seu mandato no Senado, em 2007.
Fora da política, Saturnino Braga era também um intelectual respeitado. Engenheiro e economista, ele escreveu diversos livros sobre economia e política, sempre engajado nas discussões sobre o futuro do país. Recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Mérito, uma das maiores honrarias concedidas no Brasil.
Mesmo depois de se afastar da vida pública, Saturnino nunca deixou de participar dos debates políticos e de contribuir com análises profundas sobre os rumos do Brasil e do Rio de Janeiro. Seu compromisso com a política era evidente até seus últimos dias, mostrando a paixão que nutria pelo serviço público e pela melhoria da vida das pessoas.
O falecimento de Saturnino Braga marca o fim de uma era para a política carioca e nacional. Ele foi uma figura de resistência, especialmente durante os anos mais duros da ditadura militar, e sua trajetória inspirou muitos jovens políticos. Viúvo, ele deixa três filhos, além de um legado de integridade, liderança e compromisso com a democracia.
A notícia de sua morte gerou comoção entre familiares, amigos e admiradores. Nas redes sociais, diversas personalidades e políticos prestaram suas homenagens, relembrando a importância de Saturnino para a política brasileira e sua contribuição ao longo dos anos.
Saturnino Braga será lembrado como um político que sempre buscou o diálogo e o entendimento, mesmo nos momentos mais críticos. Seu estilo conciliador e firme o destacou entre seus pares, e sua dedicação ao serviço público inspirou gerações.
Enquanto o Rio de Janeiro se despede de uma de suas grandes figuras políticas, o Brasil se lembra do homem que, por décadas, lutou pela democracia e pela justiça social. Saturnino Braga deixa uma marca indelével na história do país, com uma vida dedicada à política, ao debate intelectual e ao serviço público.