Aos 49 anos, o Brasil se despediu de uma artista que transcendeu a música. Preta Gil não foi apenas uma cantora — foi uma força pulsante no cenário cultural e empresarial do país. Sua partida marca o fim de uma jornada intensa e versátil, mas deixa em aberto uma herança de autenticidade, coragem e inovação que continuará influenciando gerações.
Desde cedo, Preta rejeitou a ideia de viver à sombra de seu pai, o consagrado Gilberto Gil. Determinada a trilhar seus próprios caminhos, ela começou a trabalhar ainda na adolescência, explorando os bastidores da indústria musical com uma visão estratégica rara. Aos 16 anos, já demonstrava inquietação e talento para os negócios, traços que se tornariam sua marca registrada.
Antes de assumir o palco como cantora, Preta acumulou experiência na produção de eventos importantes, como o Prêmio Sharp (atual Prêmio da Música Brasileira), além de comandar o famoso camarote de Carnaval no Rio. Mais tarde, mergulhou no mundo da publicidade, atuando na agência DM9, onde desenvolveu uma percepção aguçada sobre imagem, marca e comunicação — habilidades que mais tarde seriam cruciais em sua jornada como empresária.
A carreira musical deslanchou oficialmente aos 28 anos, quando decidiu mostrar sua voz ao mundo. Preta se destacou não apenas por sua música, mas por seu posicionamento. Tornou-se símbolo de representatividade e liberdade, abordando temas como corpo, identidade, sexualidade e negritude com coragem e sinceridade. Sua presença era um ato político, e sua trajetória uma inspiração.
Versátil, ela também brilhou na televisão, como apresentadora de programas que misturavam entretenimento e debates sociais, como o “Caixa Preta”. No ambiente digital, se reinventou mais uma vez. Criou sua própria empresa de marketing, firmou parcerias com grandes marcas e se destacou como influenciadora com propósito. Estimativas apontam que seu patrimônio girava entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões — resultado de uma carreira construída com autenticidade e visão.
Preta deixa o filho Francisco e a neta Sol de Maria, mas seu legado vai além da família. Ela provou que uma mulher negra pode comandar negócios, ditar tendências, brilhar nos palcos e fora deles — sempre com alma, inteligência e atitude. Sua trajetória continua sendo uma aula de ousadia e reinvenção, e seu nome entra para a história como uma das vozes mais autênticas e transformadoras da cultura brasileira.
