A cidade de Itabaiana, localizada no interior da Paraíba, se viu abalada pela trágica história de Ruth Iaponira da Silva Maia, uma jovem de apenas 17 anos que perdeu a vida durante o parto. O caso provocou uma onda de indignação e levantou questões urgentes sobre a violência obstétrica no Brasil.
Ruth era moradora do Acampamento Arcanjo Belarmino, uma comunidade organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Sua jornada em busca de atendimento médico foi marcada por dificuldades e obstáculos que culminaram em um desfecho devastador.
Nos dias que antecederam seu parto, Ruth começou a sentir os primeiros sinais de trabalho de parto, mas não conseguiu ser admitida em nenhuma das maternidades da região. O relato de seu esposo, Pedro da Silva Jordão, revela o desespero da família diante da situação. “Fomos a três maternidades: Frei Damião, Cândida Vargas e Santa Rita. Em nenhuma delas a deixaram internada, pois estava com apenas um centímetro de dilatação”, contou Pedro.
Após dias de sofrimento em casa, com dores intensas, a jovem foi finalmente levada ao hospital de Pedras de Fogo. Naquela unidade, foi constatado que ela já apresentava seis centímetros de dilatação. Apesar do quadro avançado, a equipe médica optou por não realizar uma cesárea e decidiu por um parto normal.
O que se seguiu foi uma série de complicações. Ruth foi transferida para o hospital de Itabaiana, onde enfrentou uma série de procedimentos para tentar facilitar o parto. O uso de fórceps e uma bomba de vácuo foram algumas das manobras adotadas pelos profissionais de saúde.
Infelizmente, essas intervenções resultaram em complicações severas. Ruth sofreu uma hemorragia intensa devido a uma dilaceração do períneo e complicações uterinas. Em estado crítico, foi levada ao bloco cirúrgico, mas enfrentou uma parada cardíaca e não conseguiu sobreviver.
A dor e a indignação da família e da comunidade foram instantâneas. A Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES) emitiu uma nota em resposta ao ocorrido, afirmando que o uso do fórceps é uma prática respaldada pela literatura médica em situações onde a cesárea oferece riscos maiores.
Além disso, a SES destacou que cada óbito materno é considerado um evento sentinela, o que significa que está sendo investigado detalhadamente pela Câmara Técnica Estadual de Investigação de Óbitos Maternos. No entanto, até o momento, o Comitê Estadual de Mortalidade Materna ainda não divulgou informações conclusivas sobre o trágico caso de Ruth.
O episódio trouxe à tona a discussão sobre a violência obstétrica, um tema que frequentemente é ignorado no Brasil. Muitas mulheres enfrentam não apenas a dor do parto, mas também a falta de respeito e a negligência por parte do sistema de saúde.
A história de Ruth não é um caso isolado; é um reflexo de um problema sistêmico que precisa ser urgentemente abordado. A comunidade e os movimentos sociais se mobilizam para exigir mais direitos e cuidado para todas as mulheres, especialmente durante a gestação e o parto.
A tragédia de Ruth Iaponira é um chamado à ação, um lembrete de que cada vida importa e que o atendimento humanizado deve ser a norma, não a exceção. A dor de sua perda ecoa na luta por melhores condições de saúde e respeito à dignidade das mulheres em todo o país.
Enquanto as investigações continuam, a memória de Ruth serve como um símbolo da resistência e da luta por um sistema de saúde mais justo e humano. Que sua história não seja esquecida e que traga mudanças reais para a realidade das mulheres brasileiras.